Descoberta em São Gabriel do Oeste pode transformar gestão hídrica em Mato Grosso do Sul

Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) identificaram uma nova unidade hidrogeológica no centro-norte do estado, chamada Aquífero São Gabriel do Oeste (ASGO), que pode se tornar o nono aquífero reconhecido oficialmente em Mato Grosso do Sul. O novo aquífero apresenta características técnicas distintas dos aquíferos Guarani e Bauru e reúne atributos relevantes para abastecimento, pesquisa e gestão hídrica estadual.

O ASGO cobre cerca de 1.400 km², estendendo-se principalmente em São Gabriel do Oeste e alcançando também partes dos municípios de Bandeirantes e Rio Negro. Ele ocupa aproximadamente 36% da área municipal de São Gabriel do Oeste. É um aquífero livre, o que significa que o lençol freático está próximo à superfície, favorecendo infiltração direta da água da chuva. A água tem condutividade elétrica muito baixa — aproximadamente 5 μS/cm — indicando alto grau de pureza, similar à da água da chuva.

Poços tubulares rurais na área provêm em média 15 m³/h de água, tornando o ASGO uma fonte significativa para abastecimento doméstico, para pequenas propriedades rurais e para agroindústrias. Com precipitação anual média de 1.635 mm, estimam os pesquisadores, o aquífero possui uma reserva renovável de cerca de 458 milhões de metros cúbicos por ano. Pelas normas do instituto estadual responsável pela gestão hídrica (Imasul), apenas 20% desse volume renovável pode ser utilizado.

Apesar do potencial, o sistema apresenta vulnerabilidades importantes. Devido à alta porosidade do solo, há risco elevado de contaminação, especialmente considerando práticas agrícolas intensas na região, com criação de suínos e aves, além de uso de agrotóxicos. Estudos anteriores conduzidos pelo Laboratório de Águas Subterrâneas e Áreas Contaminadas da UFMS identificaram metais pesados como arsênio, selênio e chumbo em amostras de água subterrânea em locais próximos.

O reconhecimento formal do ASGO como unidade hidrogeológica independente permitiria melhores práticas de monitoramento e gestão sustentável da água subterrânea. O estudo será apresentado oficialmente à Frente Parlamentar de Recursos Hídricos na Assembleia Legislativa no dia 23 de outubro, com objetivo de incluir o tema no Conselho Estadual de Recursos Hídricos e atualizar o Plano Estadual de Recursos Hídricos, vigente desde 2010. O trabalho é liderado pelos geólogos Giancarlo Lastoria e Sandra Gabas, com contribuição dos pesquisadores Odirlei Newman e Juliana Casadei, todos da UFMS.

Fontes consultadas: Campo Grande News

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