O setor de comércio e serviços, que representa a maior fatia do Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso do Sul com 54,31%, expressa insatisfação com a disparidade de incentivos fiscais em comparação ao agronegócio. Enquanto o agronegócio tem projeção de R$ 2,16 bilhões em renúncias fiscais para 2026, o comércio receberá apenas R$ 354,6 milhões. Essa desigualdade também se manifesta nos recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), onde em 2025 foram aprovadas 904 cartas para o setor rural contra 241 para o empresarial, totalizando R$ 2,38 bilhões.
Comerciantes locais, como Adelaido Vila, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Campo Grande (CDL-CG), relatam dificuldades com a burocracia e a morosidade na obtenção de benefícios fiscais, como isenções de ISS. Ele aponta que muitos projetos aguardam anos para serem votados ou sancionados, prejudicando o desenvolvimento de empresas que poderiam gerar mais empregos. A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Mato Grosso do Sul (FCDL-MS), através de sua presidente Inês Santiago, defende um ambiente de incentivos mais equilibrado, considerando a relevância econômica do comércio e serviços para a arrecadação tributária e o desenvolvimento local.
A disparidade é evidenciada pelos dados da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026, que estima renúncias fiscais totais de R$ 11,95 bilhões em Mato Grosso do Sul. Desse montante, R$ 2,16 bilhões são destinados ao agronegócio, enquanto o comércio e outros setores de serviços somam R$ 363,7 milhões em isenções de ICMS. Mesmo com a criação de programas como o Prodes (Programa de Incentivos para o Desenvolvimento Econômico e Social) em Campo Grande, que oferece isenção de IPTU e taxa de iluminação pública, o impacto é limitado e o acesso aos benefícios é dificultado pela burocracia.
Comerciantes individuais compartilham a mesma frustração. Thiago Ventura, proprietário de uma loja de tecidos, afirma nunca ter recebido incentivos fiscais e sugere a isenção ou redução de tributos como ICMS e Simples Nacional. Carla Crone, dona de uma ótica, embora não tenha buscado crédito governamental, reconhece o acesso facilitado a recursos para o agronegócio. Ivo Rafael Silva, com 43 anos de experiência no comércio, relata ter tido acesso a um único incentivo pelo Pronamp no ano passado, destacando a dificuldade e a desigualdade no setor.
O setor de serviços é o maior empregador e o principal motor da economia de Mato Grosso do Sul, respondendo por 54,31% do PIB estadual em 2022, superando a agropecuária (22,79%) e a indústria (22,90%). Apesar de dominar a abertura de novas empresas, especialmente em Campo Grande, onde 72,2% das novas empresas estaduais em setembro de 2025 foram do setor de serviços, o comércio e serviços enfrentam um cenário de escassez de apoio governamental em comparação com o agronegócio.
