O desmatamento no Planalto da Bacia do Alto Paraguai impacta o regime hídrico do Pantanal

Um levantamento do MapBiomas, utilizando dados de cobertura e uso da terra entre 1985 e 2024, revelou uma drástica redução de 75% na frequência anual de áreas alagadas no Pantanal. A área alagada caiu de 1,6 milhão de hectares na década de 1985-1994 para 460 mil hectares na década de 2014-2024, indicando que o bioma, a maior planície alagável do mundo, enfrenta o período mais seco das últimas quatro décadas. O ano de 2024 foi o mais seco já registrado, com áreas alagadas 73% abaixo da média histórica.

As mudanças observadas na Planície Pantaneira estão diretamente correlacionadas com as transformações ocorridas no Planalto da Bacia do Alto Paraguai (BAP), que abriga as nascentes dos rios que alimentam o Pantanal. Entre 1985 e 2024, a área natural do Planalto sofreu uma perda de 5,2 milhões de hectares (37% de sua vegetação nativa), com a agricultura aumentando 3,8 vezes, sendo a soja o principal cultivo. Paralelamente, a área de pastagem expandiu-se sobre a vegetação nativa, intensificando a antropização.

Eduardo Reis Rosa, coordenador da equipe Pantanal do MapBiomas, explica que as variações climáticas e de precipitação na BAP determinam o pulso anual de cheias no Pantanal. A perda de florestas e savanas no Planalto fragiliza a proteção do solo nas cabeceiras, impactando o fluxo hídrico para a Planície. Em 2024, aproximadamente 60% do Planalto era antropizado, um aumento significativo em relação aos 33% registrados em 1985. A condição das pastagens no Planalto também é preocupante, com a maioria apresentando baixo ou médio vigor vegetativo.

Na própria Planície Pantaneira, as mudanças também foram expressivas. A área natural diminuiu em 1,7 milhão de hectares entre 1985 e 2024, com a conversão de vegetação nativa para pastagem sendo a principal causa. A área de pastagem na Planície aumentou de 563 mil hectares em 1985 para 2,2 milhões de hectares em 2024. A mineração também apresentou um crescimento proporcional notável de 60% na última década.

Análises por década detalham essa dinâmica: a década de 1985-1994 registrou a maior conversão de savana para pastagem; a de 2005-2014 marcou a primeira redução na frequência de alagamentos; e a mais recente, 2015-2024, foi a mais seca, com a Planície Pantaneira perdendo mais vegetação nativa do que o Planalto, evidenciando uma alteração preocupante no regime hídrico e na cobertura vegetal do bioma.

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