Celebridades
“O que a arte fez por mim “ – Uma história de superação e resiliência.
TDAH: principal barreira é o preconceito
| VICTOR CURRALES
Estudiosa e persistente, a atriz e produtora sul-mato-grossense, Tatiany Furuse, é um exemplo de superação e resiliência na luta pela arte cinematográfica e da própria sobrevivência.
Muito cedo teve suas primeiras crises na infância que a impediu até mesmo de continuar os estudos nessa época e que prejudicaria seu desempenho em algumas áreas da vida para sempre.
Apesar da dificuldade medos e incertezas em sua fase adolescente, ela se encontraria com a arte o que não foi fácil para seus pais e nem para ela mesma. Mas também foi aí que a arte, a literatura e o cinema entraram de vez em sua vida e aos vinte anos ela chegou ao Rio de Janeiro para trabalhar, logo conseguiu as primeiras peças em que atuou como atriz, apresentadora e também como produtora, incluindo a ópera “Turandot” de Giacomo Puccini, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sendo até hoje, o trabalho que lembra como maior realização e orgulho, sendo na época, agradecida pessoalmente com enorme emoção pela renomada atriz Fernanda Montenegro.
Tatiany, contudo, teve que retornar para Campo Grande por questões pessoais e aí então, o mundo desabou sobre sua cabeça. Os pequenos sintomas ganharam força e fizeram com que procurasse um especialista para identificar a causa e começou então, uma saga e sequências desastrosas de diagnósticos mal interpretados e até a perda do interesse pela vida. Daí para a internação em clinicas psiquiátricas foi um pulo e finalmente o rótulo mais pesado que uma pessoa com a síndrome pode receber. Louca!
Conseguiu retornar para o Rio de Janeiro, e conseguiu superar toda esta situação, vivendo mais de décadas de conquistas e realizações profissionais. E foi nesta época também que iniciou sua carreira em uma das maiores emissoras de TV do país, a TV Globo. O que a ajudou a abrir portas como modelo publicitário, representando as maiores empresas do Brasil até para o mundo, como Petrobrás e Infraero, como também representando a seleção japonesa no Copa das Confederações do Brasil, chegando a ser a oriental que mais trabalhava no Brasil e conquistando aquilo que todo ator oriental sonha conseguir para todos, “serem considerados brasileiros e disputarem papéis com brancos, negros, e qualquer outro perfil que representa a diversidade deste país”.
Novamente com o intuito de resolver problemas particulares, retorna para Mato Grosso do Sul, Estado que a atriz foi criada e adotou como seu Estado do coração. Nesta época, tudo parecia bem e um projeto cinematográfico há muito tempo sonhado e esperado finalmente saiu do papel levando o nome do Estado para o mundo, mas então o inesperado aconteceu. Entre os desgastes pessoal e profissional buscou então nas mais diversas denominações uma resposta para tudo aquilo que a perseguia e que resultaram em crises cada vez mais fortes e frequentes, que como efeito dominó, traziam outros problemas de saúde como a epilepsia total e surtos que aparentavam esquizofrenia.
“Passei então a não mais me entender, eu tentava explicar o que estava acontecendo e quanto mais tentava explicar e pedir ajuda, ninguém acreditava ou entendia e foi depois de permanecer por muitos anos no mais profundo do fundo do poço e completamente sozinha, que entendi que talvez eu nunca mais voltasse a me entender perante quase tudo que é considerado “normalidade” atualmente diante de minha nova condição, realmente completamente transformada, e foi então que comecei a me encontrar e procurar novos motivos e conquistas que me dessem força e motivação para viver”, conta Tatiany.
O encontro
O início de virada, aconteceu numa quase total exclusão social, que a levou ao isolamento profissional, já que mesmo os convites de trabalho acontecendo no Rio de Janeiro, tinha vergonha de expor seu físico completamente transformado, que durante um tempo chegou à uma perda de peso imensa, e na outra, rapidamente, a um aumento de peso que seu corpo não estava preparado para sustentar. E entre livros, filmes, documentários e biografias similares, descobriu que era TDAH. Exames confirmaram lesões diversas em seu cérebro e a constatação nada mais poderia piorar. Veio então o conhecimento que sofria a dor da Psicofobia, palavra inventada pelo mestre do humor Chico Anysio que sofreu e lutou por mais de décadas contra a depressão, e que descreve o pré-conceito contra aqueles que sofrem com doenças mentais. Até que finalmente chegou às Leis e ao conhecimento que ainda tinha onde encontrar amparo, por entender seus direitos e o porquê eles são essenciais, serem respeitados, e isso mudou totalmente o seu conceito sobre tudo o que acontecia com ela.
“A partir daí eu compreendi que não podia mais morrer, eu precisava usar minha vida para lutar tanto por ela, como pela vida de todos os diferentes, pelo que o mundo hoje chama de “neurodiversos”, e por consequência, por todo tipo de minorias que tem os direitos humanos assegurados por lei, roubados de cada um de nós”, explica Tatiany Furuse.
TDAH
Segundo a ABDA-Associação Brasileira do Déficit de Atenção, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD.
Como resultado de tudo, ela enfrentou e venceu, o mais recente de seus desafios, com a realização do documentário “O que a arte fez por mim”, que traz um breve relato da importância da arte, da cultura e do conhecimento no tratamento da Saúde Mental, por intermédio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc através da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.
Tatiany conta ainda, que aos onze anos teve o prazer de conhecer pessoalmente Chico Anysio quando este veio fazer uma apresentação teatral no Estado. Como também era para ter sido a produtora executiva da última peça que ele dirigiu. O autógrafo que ele deu há mais de trinta anos para ela, tinha grande significado.
Ela acreditava que era a certeza que iria conquistar tudo que desejava na carreira artística quando o leu e que ainda um dia tralharia com ele. Mas quando ele faleceu sem que tivessem, por um infeliz acaso, trabalhado juntos, sua frustação foi imensa. E só quando teve acesso a esta particularidade pouco conhecida de sua vida, que lutava há muitos anos para sobreviver a questões de saúde mental e só no fim da vida descobriu, que como ele mesmo disse “que se soubesse que ter aberto que sofria de depressão teriam feitos outros não terem vergonha de se sentirem deprimidos”, ela compreendeu o significado maior que aquele autografo tinha, e que reencontrou no início deste ano completamente conservado e que dobrou a sua vontade e força nesta luta.
E conta que chorou ao olhar o autógrafo novamente com a seguinte mensagem: “Tatiane, estou esperando. Chico Anysio” e compreendeu que não era só por ela e por todos esta luta, mas para continuar o caminho que ele mesmo começou a iniciar neste país antes de falecer, que era a campanha nacional contra a Psicofobia e criar uma lei especifica para isto para que fosse mais fácil para a sociedade compreender as consequências sérias na vida de milhares devido a esta discriminação.
Tatiany diz que sua maior terapia são os estudos. O que é normal em muitos casos de portadores de TDAH, principalmente com o QI acima da média como o dela, como também em muitos outros casos de transtornos e síndromes de caráter cerebral e psiquiátrico e que isto precisa ser incentivado nestes casos e não o contrário, como também é muito comum acontecer. Os exercícios para o cérebro contribuem para o desenvolvimento de outras funções cognitivas como o foco, a atenção, o raciocínio lógico e também de habilidades sócio emocionais, como autoestima e sociabilização.
Que a história de vida dessa mulher, mãe, palestrante, produtora e atriz, que representa 5% da população brasileira portadora desse transtorno, e no caso de outros transtornos e síndromes, atinge uma porcentagem que chega a afetar a maioria da população brasileira e representa boa parte da população mundial, cuja pesquisas científicas apresentam que pessoas com TDAH - conhecida como a tríade desatenção, hiperatividade e impulsividade, sofrem prejuízos em sua vida social, escolar, familiar e emocional, possa servir de estímulo e superação para milhares de outras pessoas para que cada um dentro de suas limitações e necessidades de superação, possam encontrar o seu caminho e contribuir assim, nesta causa humanitária.
Fonte: Victor Currales
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